26 de maio de 2010

Resumo

Alguns números do meu Caminho:

  • Distancia percorrida - 848,2km
  • Tempo a pedalar -  72:30h
  • Acumulado subidas - 16 073m
  • Velocidade média - 11,7km/h
  • Calorias despendidas - 56 872
  • Gasto médio diário - 30 euros (total incluindo viagens de regresso e estadia de 1 noite em França)

O Caminho Francês de Santiago foi considerado em 1993 pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade e desde o seculo IX que é percorrido anualmente por milhares de peregrinos que rumam a Santiago Compostela (mais informações aqui). Em todo o percurso, as paisagens são fabulosas mas o verdadeiro Caminho faz-se de pessoas, do convívio com diferentes culturas e nacionalidades todos com o mesmo espírito de entreajuda, partilha e alegria.
Realizar esta aventura sozinho foi uma decisão difícil e terminada posso afirmar que foi a mais acertada. Terminei com a certeza que o convívio com
outros peregrinos foi facilitado por esse facto e constatei que quem viajava em grupo "fechava-se" convivendo muito pouco com os restantes. Ao longo do Caminho foram imensos os peregrinos com quem me cruzei e convivi podendo afirmar que "NUNCA SE ESTÁ SÓ".

Hoje em dia o Caminho é muito bem aproveitado em termos turísticos o que facilita a logística, a rede de albergues está bem estruturada e com muita oferta. Existem os albergues municipais, paroquiais e privados com preços a  oscilar entre o donativo e os 9 euros. Em virtude do numero de peregrinos ser muito elevado, aconteceu-me encontrar albergues completos mas para quem percorre o Caminho de bicicleta facilmente percorre mais meia dúzia de kms até ao albergue seguinte.
O Caminho está muito bem sinalizado, apenas tive dificuldade em Leon, não havendo necessidade de recorrer ao GPS.
A decisão de transportar o mínimo possível revelou-se sensata, tive menos dificuldade em transpor os obstáculos, no inicio do dia perdia menos tempo a preparar-me, não tive falta de nada e caso falta-se facilmente adquiria ao longo do percurso.

O Caminho é percorrido por todo o tipo de pessoas, não é preciso estar numa super forma física para o fazer, alguns caminham ou pedalam com muita dificuldade mas não os vi desistir. Senti que o corpo habitua-se e recupera facilmente, fundamental foi a força de vontade, o espírito de sacrifício e a determinação.

Foram dias e experiências inesquecíveis que, de bicicleta, pecaram por passar tão depressa...

E já agora:
  • Para quem ainda não percorreu o Caminho Português - Experimente, é lindo!
  • Quem já o fez e gostaria de mais - ganhem coragem e aventurem-se no Caminho Francês!

Em qualquer dos casos, se precisarem de ajuda disponham (ruifre@gmail.com).


BUEN CAMINO e até um dia deste em mais uma aventura...

25 de maio de 2010

Santiago Compostela

  • Distancia - 4,59km
  • Tempo - 00:28h
  • Acumulado subida -110m
  • Velocidade média - 9,7km/h

Foi uma noite de chuva intensa passada sem dormir, recordando os bons momentos que tinha vivido neste últimos 9 dias e também no que ainda faltava fazer para chegar a casa sem problemas.
Sai do Monte do Gozo debaixo de chuva com o Fabio às 8h para os últimos 4,5km. O percurso é todo em estrada até ao centro da cidade e pouco tempo depois estávamos a entrar na Plaza del Obradoiro.
É o termino desta aventura em autonomia que durou 9 dias e com 850km percorridos.
É a quinta vez que chego a esta praça e se a 1ª foi muito especial, esta suplantou largamente e é difícil descrever as emoções sentidas, foram um misto de alegria, satisfação por ter conseguido e ao mesmo tempo tristeza por tudo ter terminado. Sentei-me a contemplar a Catedral e não me apetecia sair dali...

Mas havia um outro Caminho a percorrer - o do regresso a casa, à familia e à rotina do dia a dia.
Na oficina do peregrino eram muitos os peregrinos que aguardavam a Compostela e ao fim de 1 hora lá chegou a minha vez.
Aproveitei para passear pelas ruas de Santiago até às 12:00 altura em que se celebra a missa do peregrino. Realiza-se diariamente e no final fazem referencia à quantidade e nacionalidades dos peregrinos que concluíram. Foi com imenso orgulho que ouvi "Portugal - um".
No meu ultimo almoço em terras de Santiago tive a companhia do Fabio e partilhamos algumas das recordações desta aventura.
Estava na hora das despedidas e dirigi-me à estação de caminho de ferro de Santiago Compostela. Aqui surgiu o primeiro problema deste regresso atribulado - o comboio da Renfe transporta no máximo 3 bicicletas e os próximos 2 comboios com destino a Vigo já estavam completos. Havia um terceiro com disponibilidade mas ia chegar quase à hora de partida do ultimo comboio do dia da CP com destino ao Porto, não havia nada a fazer, restava apenas esperar que os comboios espanhóis fossem mais pontuais que os nossos. Felizmente tudo correu bem e cheguei a tempo de comprar o bilhete e entrar no comboio.
Na viagem Vigo - Porto tive a companhia de 6 algarvios que tinham terminado o Caminho Português em bicicleta. Foi uma viagem muito animada, com muita conversa até que surgiu o segundo problema - o comboio parou na Trofa e fomos informados que por motivos de descarrilamento de uma composição em Ermesinde o comboio não podia chegar ao seu destino. A CP estava a tratar de enviar autocarros para fazer o transbordo dos passageiros mas sem garantir o transporte das 7 bicicletas.
 

Após algum tempo de espera sem solução à vista, montamos nas nossas bikes para mais uns kms a pedalar até à estação de Ermesinde.
Cheguei ao Porto 3h após o previsto, cansado mas feliz por estar junto da minha família que viveu esta aventura com muita intensidade e a quem agradeço todo o apoio.

24 de maio de 2010

9º dia Portomarin - Monte do Gozo

  • Distancia - 89km
  • Tempo - 8:27h
  • Acumulado subidas - 2260m
  • Velocidade média - 10,5km/h

Dormi muito pouco porque às 4 da manha já estava muito movimento no albergue. Como habitualmente os peregrinos a pé saem mais cedo e não deixam ninguém dormir. Sai às 7h, cansado e com muita pouca vontade de pedalar. Os primeiros km foram terríveis, não estava confortável na bike, doía-me o corpo todo e para piorar as coisas o dia estava cinzento e havia imensos peregrinos no Caminho obrigando a constantes abrandamentos e paragens. Com muito sacrifício lá fui pedalando até ao pequeno almoço num café com dezenas de peregrinos. Já não estava habituado a confusões, os dias no Caminho tinham sido sempre muito calmos. Os trilhos também são algo diferentes, caminhos ao lado de estradas com algum movimento e a passagem por muitas povoações onde já se viam pessoas. Já sinto saudades dos trilhos em terra pelo meio das planícies e das montanhas a ouvir o barulho da natureza!
Definitivamente o dia não estava a correr bem, até às 12h apenas tinha percorrido 39km, estava em Melide onde a especialidade gastronómica é o "pulpo" (polvo) optei por parar na Pulperia Ezequiel. Fantástico local de paragem obrigatória com o delicioso polvo servido num prato de madeira e com mesas compridas onde todos se misturam e convivem.
Após o almoço as coisas não melhoraram muito, o corpo estava muito cansado e era penoso pedalar nessas condições, pensei então em arranjar albergue e descansar para que no dia seguinte chegasse a Santiago em melhores condições. A primeira tentativa foi no Mosteiro de Samos mas como só abria às 15:30 continuei.
O percurso é muito desgastante, sobe e desce constante e a faltar cerca de 40km o céu escureceu, começou a relampejar e não tardou muito caiu uma chuvada intensa e fria. Só tive tempo de parar, guardar a maquina fotográfica na mochila e proteger tudo com sacos plásticos.Estava todo molhado e gelado, muitos peregrinos abrigaram-se debaixo das árvores mas de pouco adiantava. Procurei albergue em Ribadiso e em Stª Irene mas estavam todos completos, aí decidi que não ia procurar mais e tinha de chegar hoje a Santiago, só me restava pedalar com as forças que ainda tinha pelo meio da lama. Com a aproximação a Santiago a chuva deu tréguas e os últimos 10km ainda deu para secar a roupa. Ao longe começava a ver os aviões a aterrar e levantar em Lavacolla onde fica situado o aeroporto de Santiago Compostela .
Agora não havia duvidas, estava a chegar e o monumento ao peregrino situado no Monte do Gozo não tardou a aparecer. O monumento foi inaugurado durante a visita do Papa João Paulo II a Santiago Compostela e aqui foi construído o ultimo e maior albergue do Caminho Francês e dista apenas 4,5km da Catedral de Santiago Compostela. Decidi ficar aqui instalado, tem capacidade para cerca de 500 peregrinos, excelentes condições e todo o tipo de apoio que um peregrino possa necessitar. 
Pouco tempo depois chegou o italiano Fabio e um casal de suíços todos de bike. O jantar foi na companhia do Fabio partilhando as nossas experiências ficando combinado que sairíamos juntos para os últimos 4,5km.

23 de maio de 2010

8º dia Villafranca del Briezo - Portomarin

  • Distancia - 99,45km
  • Tempo - 9h
  • Acumulado subidas -2795m
  • Velocidade média - 11,1km/h


Saída do albergue às 7:30 com um lindo dia e com imensos peregrinos e estranhamente muitos espanhóis. Só depois reparei que era domingo e que muitos aproveitam para fazer as etapas ao fim-de-semana. Durante os meses de recolha de dados todos falavam na dureza e inclinação da subida ao Cebreiro e alguns aconselhavam a subida por estrada porque pelos trilhos era quase impossível pedalar, confesso que estava com algum receio principalmente porque o cansaço acumulado já era muito.
Os primeiros 21km do dia foram sempre a subir mas ainda com pouca inclinação, depois veio a verdadeira subida... Sobe-se dos 700m de altitude aos 1350m em apenas 8km (8% de inclinação média). Os primeiros 4km, até La Faba foram feitos a pé empurrando a bike e na companhia de alguns peregrinos. Em nenhum momento pensei desistir e optar pela estrada, tinha decidido desde o inicio que seguiria o Caminho integralmente. A chegada a La Faba marca o meio da subida (faltam 4km), existe uma pequena capela com um monumento ao peregrino no exterior e abastecimento de agua, o trilho melhora e já é possível pedalar.
A paisagem é muito bonita e colorida, após algum tempo surge o marco indicando a entrada na Galiza, faltam cerca de 150km para Santiago! Demorou cerca de 2h a percorrer os 8km e outra dificuldade que surgiu foi a falta de pontos para abastecimento de agua. 
Apenas em La Faba e depois no Cebreiro é que existe hipótese de adquirir bebidas, tive alguma dificuldade porque não ia preparado para esta situação e até La Faba fiquei sem agua durante algum tempo...

Chegado ao Cebreiro o ambiente era fantástico, muitos turistas e cada peregrino que chegava comemorava com imensa alegria.O Cebreiro é uma pequena povoação vocacionada para o turismo com restaurantes e lojas de artesanato local.
Depois do Cebreiro uma pequena descida mas ainda faltava o Alto do Poio com 1335m de altitude, aqui aproveitei para fazer uma pequena paragem para almoçar o habitual. 
Depois foi sempre a descer até Triacastela mas como a Galiza é conhecida pelo sobe e desce constante chegado a Triacastela as subidas e descidas sucederam-se. A subida ao Cebreiro e o calor deixaram-me no limite, estava muito cansado com dores nas pernas e o desconforto do selim agravou-se. 
Decidi procurar albergue em San Xii mas estavam todos completos, o mesmo se passou em Furela, Calbor, Sarria, Barbadelo e restantes povoações por onde fui passando, restava Portomarim que tem uma boa oferta de albergues municipais e privados. 
Foram 35km de muito sacrifício à procura de albergue, passando por locais muito bonitos como  San XII e os bosques de carvalhos seculares (pareciam tirados dos filmes de bruxas) mas que não dei a atenção devida porque estava esgotado, só queria arranjar um local para descansar. Finalmente cheguei a Portomarim onde fiquei instalado no albergue municipal. A cidade estava repleta de peregrinos, nunca em todo o Caminho tinha visto tanta gente e o motivo é simples - para obter a Compostela os peregrinos a pé têm de percorrer 100km, então iniciam em Sarria percorrendo a ultima centena de kms até Santiago.
O albergue é muito grande e com excelentes condições e  na cidade existe muita restauração servindo o menu de peregrino, jantei na companhia de espanhóis.
Foi um dia muito cansativo e o sacrifício que fiz para chegar a Portomarim talvez permita terminar o Caminho  um dia antes do programado. Faltam apenas 93km para chegar a Santiago mas os trilhos na Galiza não são nada fáceis (são os chamados rompe pernas).

22 de maio de 2010

7º dia Hospital de Orbigo - Villafranca del Briezo

  • Distancia - 94,94km
  • Tempo - 8:20h
  • Acumulado subidas - 1579m
  • Velocidade média - 11,4km/h


Despertei ainda o sol não tinha aparecido, com o barulho dos outros peregrinos a arrumar as coisas para saírem. Por norma saem 2 horas antes de mim mas pouco tempo depois de eu iniciar, passo por eles e desejo-lhes um "Buen Camino". A velocidade média dos peregrinos a pé é de 6km/h e por norma não percorrem mais do que 30km por dia. Hoje a paisagem e o relevo vão mudar, terminou a planície e regressam as montanhas. Tenho pela frente o ponto mais alto de todo o Caminho, a Cruz de Ferro situada a 1.500m de altitude.
Sai pelas 7:30 e o primeiro ponto de passagem foi Astorga com o lindo Palacio de Gaudi, pena que como ainda era muito cedo estava tudo fechado.
 À saida de Murias de Rechivaldo existe um bar fabuloso onde servem um pequeno almoço muito em conta e com uma qualidade acima do normal. É um sitio muito bonito com musica a condizer e até apetecia ficar por ali...
Aqui incia-se uma longa subida de 25km até à Cruz de Ferro, com passagem por locais muito bonitos e com o adeus definitivo às planícies. A neve era visivel nas montanhas ao meu redor e nesta altura só pensava em qual delas estava a Cruz de Ferro.
A subida embora longa não apresenta grandes dificuldades mas o calor dificultava e muito.
Finalmente surge no cimo da montanha a Cruz de Ferro que segundo a tradição, os peregrino devem trazer uma pedra do seu pais e deposita-la junto à Cruz. O monte formado pelo acumular de pedras é enorme e alguns deixam inclusive objectos pessoais. Claro que tinha levado comigo uma pedra trazia da minha terriola e coloquei-a bem juntinha à Cruz.
Passagem por Manjarin com o ultimo dos Templários (como se auto-intitula) e poucos km depois o inicio da descida de 15km até Molinaseca. Que descida! Tem inicio nos 1.500m de altitude e desce até aos 600m, com piso todo em pedra, extremamente perigoso e com memoriais a peregrinos falecidos por acidente de bicicleta. Bicicletas demasiado pesadas ou com carga mal acondicionada devem tornar esta descida um inferno, felizmente a minha vai bastante leve e os travões/suspensão portaram-se à altura do desafio.
Até à paragem em Molinaseca para almoço percorri 60km o que perspectivava um dia muito produtivo mas após uma leitura mais atenta aos gráficos e mapas cheguei à conclusão que deveria fazer apenas mais 23 a 30km. Isto porque estava a 52km do inicio da subida do Cebreiro (amanha vai ser o grande dia!) e era conveniente ficar a uma distancia confortável para preparar a subida (pequeno almoço e aquecimento).
Reiniciei com a passagem por Ponferrada onde o Castelo Templário é a maior atracção e restante percurso sem interesse de maior mas com os 34ºC a criarem algumas dificuldades e a obrigar à ingestão de litros de líquidos (água, aquarios e umas cervejas bem fresquinhas).
Como o albergue de Cacabelos estava completo pedalei mais 7km e  fiquei eno albergue municipal de Villafranca del Briezo, muito sossegado e bem equipado. Na vila existe uma praça com diversos estabelecimentos de restauração onde o convívio com outros peregrinos e residentes foi mais uma vez fantástico.

21 de maio de 2010

6º dia Villacazar de Sirga - Hospital de Orbigo

  • Distancia - 135,85km
  • Tempo - 8:23h
  • Acumulado subidas - 1.171m
  • Velocidade média - 16,2km/h


O dia começou muito cedo com o pequeno almoço no albergue oferecido pelo hospitaleiro. Pelas 7 horas já estava a pedalar e dava para perceber que seria mais um dia de muito calor. Passado pouco tempo uma breve paragem para me despedir dos meus companheiros de jantar do dia anterior, tinham saído bem mais cedo que eu mas a bike tem estas vantagen. Os peregrinos a pé convivem muito mais mas precisam de trinta dias para completar o Caminho...
As imensas rectas sucederam-se, bastante rápidas mas hoje surgiu o primeiro problema físico que impossibilitou um andamento mais vivo. Ao sexto dia a nádega esquerda começou a ressentir-se e as dores e mal estar instalaram-se, nem a aplicação diária de Halibut e de Chamois Creme da Assos evitou esta situação. Era muito difícil encontrar posição no selim para pedalar, mas pouco havia a fazer, restava sofrer um pouco e aguardar que no fim do dia o problema fosse minimizado.

Paragem em Sahagun para o segundo pequeno almoço, num local muito agradável, com muitos peregrinos e com direito a desconto por ser Português... Ainda há quem fale mal de nuestros hermanos!
Resto do dia com muito pouco interesse a não ser a passagem por Leon, cidade com muito movimento e com uma linda catedral. Estava imenso calor e perdi a conta aos litros de agua e Aquarius que bebi, felizmente que ao longo do Caminho são muitas as fontes e maquinas de venda de bebidas frescas.
Como habitual o termino do dia não estava planeado mas como já tinha percorrido 135km ao passar por Hospital de Orbigo decidi parar e procurar albergue.
A vila é muito gira, com muito movimento de peregrinos e com vários albergues. Fiquei no albergue paroquial e ao fazer a inscrição ouvi "epá, finalmente um Português para eu conversar", era o André, hospitaleiro da Ordem de Malta que vai estar neste albergue como voluntário durante 3 meses. Foi fantástica a recepção e era mesmo de uma ajudinha que eu estava a precisar, expliquei-lhe o meu problema e de imediato indicou-me uma farmácia ali perto. As 2 farmacêuticas foram espectaculares, a nádega estava em ferida e não paravam de dizer que eu tinha de ficar uns dias sem andar de bike para que cicatriza-se. Aplicaram um gel de nome Labocane (gel que previne e alivia as irritações por fricção) e uma compressa adesiva.
O jantar foi na companhia do André que me contou a sua grande peregrinação a pé iniciada em Roma passagem por  Santiago e término em Fátima!
Simplesmente fantástico e ao ouvir os seus relatos, só pensava como era possível estar a lamentar-me por ter uma pequena ferida quando ele andou dias seguidos com os pés em sangue...
O albergue é muito lindo e estava praticamente completo, com muitos brasileiros, alemães, franceses, holandeses, japoneses e coreanos com quem estive em amena cavaqueira até ao apagar das luzes (situação comum em todos os albergues e que normalmente ocorre às 22 horas).

20 de maio de 2010

5º dia Ages - Vilacazar de Sirga

  • Distancia - 106,83km
  • Tempo - 8:11h
  • Acumulado subidas - 1.305m
  • Velocidade média - 13km/h


Sai às 7:20 com a companhia do José, estavam 50C e muito nevoeiro. Os comprimidos Coreanos devem ter feito bem e estou melhor da constipação mas tive de vestir uma sweat porque estou com os braços queimados do sol de ontem.
O dia hoje começou com uma subida até Atapuerca que tem como principal ponto de interesse as escavações nas montanhas feitas pelos nossos antepassados que com muita pena minha o nevoeiro não deixou ver. Pelo caminho o encontro e convívio com outros peregrinos é constante. Pouco tempo depois circundamos um aeroporto e entramos numa zona industrial que se prolonga por alguns kms até ao centro de Burgos. Aqui o trajecto é feio e bastante perigoso.
Em Burgos a paragem na sua imponente catedral é obrigatória, pena que para a visitar seja preciso pagar.

De Burgos até Hontanas o Caminho passa por muitas povoações quase abandonadas que se não fosse a passagem dos peregrinos já não existiriam.
A paragem para almoço foi em Castrojeriz antes da subidinha mais dura do dia que até parecia brincadeira comparando com o que já fiz nos dias anteriores.
 
 Depois de ultrapassada começou a parte mais monótona e desgastante do dia – rectas imensas a perder de vista, grande parte percorridas ao lado do Canal de Castilla (sistema de canais construído no século XVIII ligando várias regiões de Espanha para permitir o transporte dos cereais, hoje em dia é mais utilizado para irrigação dos campos agrícolas).

Decidi ficar num pequeno albergue em Villacazar de Sirga e o José seguiu a viagem dele. Ainda bem que decidi ficar aqui, o hospitaleiro (voluntários que são responsáveis pela gestão e manutenção dos albergues) era Canadiano e recebeu-me de uma forma espectacular: garrafa de vinho e uns petiscos na mesa.
Foi o primeiro local onde o custo da estadia não era fixo e cada um dá o que quer (donativo). Após me instalar, tomar banho e lavar a roupa, fui convidado por uma Americana para jantar com o grupo que estava na cozinha.
Desse grupo faziam parte duas Coreanas, um Coreano, uma Canadense e uma Americana.
Entre todos compraram os mantimentos e a cozinheira de serviço era uma das Coreanas (eles bem me disseram os nomes mas…).
Foi um jantar espectacular com muita conversa, e no final como não tinha contribuído com nada tive de lavar a louça. Foi um jantar inesquecível, a melhor experiência que tive até agora.